segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os sonhos de uma vida vazia

Os sonhos de uma vida vazia, que até então flutuavam congelados nesta mente fértil, mente essa que se abriga neste corpo inerte, ganharam movimento e cor na vida real. Tudo que aquela dança traduzira, acontecera num futuro logo ali, depois da esquina. À medida que as horas passavam, novos parâmetros se configuravam em “zeros” e “uns”, numa interação binária profunda, filosófica e extremamente complexa, como o olhar molhado vindo daqueles seus olhos que viram algumas (não muitas) décadas transcorrerem sob sua percepção. Olhos – e não só eles – que me encantaram desde cedo, quando ainda não entendia os porquês de tanto fascínio e atenção, que despertavam os pensamentos mais lascivos do meu sentir adolescente cheio de testosterona a ferver nas veias, e que com o tempo se cristalizaram em gelo, a flutuar.

Os sonhos, esses, os de uma vida vazia, que até então flutuavam congelados nesta mente fértil, logo após ganharem movimento e cor na vida real, retornam ao seu estado habitual, congelados. No entanto, o que era sonho – logo se pode entender que não aconteceu no mundo fático – agora vira lembrança: o gosto que não me sai da boca. Mesmo congelada, um dia a lembrança traz a saudade, e a saudade traz a certeza de que, por mais que pareça, a vida não era tão vazia assim, tampouco o corpo que abriga a mente fértil era assim tão inerte.


Cruz das Almas, 08 de abril de 2010.
13h03

Deivisson Leão.

Sono de mãe

Mariposa borboleta pousa à flor seu ombro
E sonha seus sonos de outrora
Que uma vida à maternidade desconhece até a morte
Quão lisonjeira honra
Velar sono tão inquieto
Por saber que ali estava só um corpo
Pois alma-borboleta cortejava
A mais bela flor
Que ficou em casa.


Deivisson Leão
abr/mai 2010