quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Catavento e Girassol

Confira no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=xCPAKjctulQ

A música começa com um arranjo de cordas dramático. O violão causa um momento de tensão e rara beleza. A música começa a desabrochar em cores e sensações que lhe causam, ao mesmo tempo, curiosidade, medo e fascínio porque, numa primeira audição, ela não te dá nenhuma pista do que se trata! A letra a princípio parece confusa: "Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol"... Mas, putz... a interpretação de Leila é incrível. "Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol".

Contraste. A música fala dos opostos, aí você começa a entender o porquê do clima dramático da introdução, que se estende pelos seus fugazes 5 minutos e 6 segundos. Ora relaxa, ora contrai os músculos, dadas as pequenas e significativas aparições dos diversos instrumentos utilizados no arranjo, aliadas a uma letra muito bem construída, requintada... Nossa língua é foda! Sinceramente acho que nenhuma outra permite construções tão complexas, tantos recursos metafóricos, e Aldir Blanc foi muito feliz em suas explorações: doçura, agressividade e outros antônimos que, em regra, não são nem antônimos... Perfeito!

"A paz é feita num motel, de alma lavada e passada"... Um baixo fretless ronca bonito, também contribuindo para o clima tenso da música. Ah! Diga-se de passagem, trata-se de um misto de bossa nova, samba e choro, com um tamborim repicando de leve e um surdo marcando a marcha – pancada em tempo, pancada em síncope, um reco-reco em pequenas intervenções, elegante, discreto... Uma interessante e estranha alusão ao carnaval... Estranha no sentido de tensa... Definitivamente não é a alegria do carnaval ali retratada, mas o clima é de carnaval. “Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos”.

As intervenções das cordas durante e, principalmente, no final, aonde a música vai diminuindo de volume, intensa e suavemente... Comtempla mesmo a ideia dos opostos!
Construção melódica e harmônica maravilhosa, letra profunda, arranjo denso, caudaloso. Você mergulha na história! A música cria um clima em que você consegue, mesmo de olhos abertos, embarcar na viagem que ela te proporciona, visualizando as cenas, cortando, editando, sumindo e voltando... P'ra mim, que não tive ainda a oportunidade de conhecer, dá pra imaginar o quão lindo é o Rio de Janeiro...

Identifiquei-me em muito com a música. "Eu vou de tênis e jeans e encontro você demais: escarpin, soiré"! Sou assim, meio catavento, meio gato de subúrbio, meio arredio, meio saudosista... E você, o que vê no sumidouro do espelho?

quarta-feira, 30 de junho de 2010


Teus seios
à Indiaiana


Por Patrice de Moraes


Meus olhos acolheram, sim, os movimentos
Fogosos, decididos, deliciosos... – os meios
Que usaste para expor os lúbricos talentos
(pecaminosos) da excelência dos teus seios,

esta fartura sempre a despertar anseios
ao tato, ao paladar e a tantos mais intentos
que vêem-se na expectativa de realizar passeios
inesquecíveis pelo lar desses eventos

originais. Eventos que fascinam mais
quando os transformas em mensageiros dos rituais
de sedução que maliciosamente fazes,

mostrando ter domínio sobre a carne tua
que num ato mero me amplia a mente a ter-te nua
pelo simples poder das sugestões que trazes.*

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Os sonhos de uma vida vazia

Os sonhos de uma vida vazia, que até então flutuavam congelados nesta mente fértil, mente essa que se abriga neste corpo inerte, ganharam movimento e cor na vida real. Tudo que aquela dança traduzira, acontecera num futuro logo ali, depois da esquina. À medida que as horas passavam, novos parâmetros se configuravam em “zeros” e “uns”, numa interação binária profunda, filosófica e extremamente complexa, como o olhar molhado vindo daqueles seus olhos que viram algumas (não muitas) décadas transcorrerem sob sua percepção. Olhos – e não só eles – que me encantaram desde cedo, quando ainda não entendia os porquês de tanto fascínio e atenção, que despertavam os pensamentos mais lascivos do meu sentir adolescente cheio de testosterona a ferver nas veias, e que com o tempo se cristalizaram em gelo, a flutuar.

Os sonhos, esses, os de uma vida vazia, que até então flutuavam congelados nesta mente fértil, logo após ganharem movimento e cor na vida real, retornam ao seu estado habitual, congelados. No entanto, o que era sonho – logo se pode entender que não aconteceu no mundo fático – agora vira lembrança: o gosto que não me sai da boca. Mesmo congelada, um dia a lembrança traz a saudade, e a saudade traz a certeza de que, por mais que pareça, a vida não era tão vazia assim, tampouco o corpo que abriga a mente fértil era assim tão inerte.


Cruz das Almas, 08 de abril de 2010.
13h03

Deivisson Leão.

Sono de mãe

Mariposa borboleta pousa à flor seu ombro
E sonha seus sonos de outrora
Que uma vida à maternidade desconhece até a morte
Quão lisonjeira honra
Velar sono tão inquieto
Por saber que ali estava só um corpo
Pois alma-borboleta cortejava
A mais bela flor
Que ficou em casa.


Deivisson Leão
abr/mai 2010